quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Mundo


Um dia, ainda menino, sonhava em ter o mundo

Hoje o menino cresceu, olhou o mundo e disse adeus

Não quero o mundo, não quero nada, só quero ter paz comigo

Quero ter estrelas em noites de lua, quero o céu azul em dia de sol

Bombas não são estrelas ! Radiação não é luz !

Big bang

Bomba atômica

Navios de guerra

Quero paz pró meu filho

Que ainda é um menino

E sonha em ter o mundo

Fonte da imagem: http://aruasetima.wordpress.com/2009/11/18/o-menino-perdido/

Jovem poeta


Numa noite de lua, numa hora incerta, numa esquina da periferia partiu um jovem poeta. No peito uma chaga aberta, no olhar o passar de uma vida, assim partiu sem querer o jovem poeta. Era um poeta da lua, um poeta de esquina como diria Serginho Poeta, ou seria um poeta astronauta, apaixonado e louco poeta da periferia como o descreveriam outros poetas. Em seus versos os anseios e sonhos de um jovem apaixonado da periferia, na sua partida o reverso do que sonharia. Na sua despedida, versos declamados, por corações inconformados pela partida de Iran, um jovem de olhar franco, sorriso aberto cheio de versos e poesia, é assim que vamos nos lembrar do jovem poeta da periferia. (Homenagem ao amigo e poeta Iran)

Gueto Brasil


Antônio ao atravessar uma rua sem nome no Gueto Brasil, viu caminhar em sua direção uma menina, com cabelos ao vento sem nenhum ornamento; pés desnudos, assim no tempo; vestido puído sem brilho; mas ainda assim um ser de divino encantamento.
Antônio ficou parado como que extasiado, tomado por um enorme sentimento, quando os olhos da menina depois de olhar para todos os lados se deteve assustados nos seus. Nesse momento correu em sua direção, entregando-lhe um papel na mão, antes que o barulho de um disparo o conciêntizasse do que aconteceu. Ao desfalecer em seus braços, ele anestesiado viu um anjo adormecer. Gritou desesperado, mas o povo também chocado não acreditava no que via a acontecer. Ficou jogado na calçada com ela ainda em seus braços quando um último suspiro o deixou ainda mais abalado.
A polícia chegou e quis saber, de onde ele conhecia a menina que nos seus braços jazia. E ele transtornado disse. “Eu nuna à ví, ela me deu isto antes de morrer”. O policial pegou o papel e começou a ler, olhando para Antõnio, começando a entender; e com os olhos tristes devolveu-o para que ele mesmo pudesse ler. Antônio pegou o papel e começou a ler, sem acreditar na sina sorte que Deus lhe deu. “Mãe ontem fiz treze anos e quero voltar para casa se você me aceitar. Prometo que não vou mais gritar quando o pai me bater, assim não complico as coisas pra você. Também não precisa me dar mais aquela boneca que eu tanto queria, não curto mais essas coisas. Mas quero voltar pra casa. Estou com medo de ficar na rua; aprendi a fumar uma pedrinha branca como açúcar, mas que deixa um gosto amargo quando acaba. Estou devendo na Boca, e eles querem que eu pague fazendo umas coisas com quem eles mandar, você sabe o quê. Falaram que se eu não fizer vou morrer. Só que eu não quero fazer, sabe porquê? Porque estou gostando de um cara lá do farol. Ele é muito bonito, chega todos os dias num carro amarelo, vestido com uma roupa marrom e fica o dia lá no farol mandando os carros passarem ou pararem. Eu fico o dia inteiro olhando pra ele. Ele sempre sorri quando atravessa as crianças da escola ou algum velho, e fica bravo quando os carros não fazem o que ele manda. Fico atravessando para lá e pra cá, pra vê se ele me vê, para vê se ele me sorri, mas ele nunca me viu, nunca me sorriu. Haa mãe mas o dia que ele me ver; você vai vê ele nunca mais vai me esquecer.”
Antônio depois de ler entrou num pranto compulsivo abraçado um rosto adormecido, numa rua sem nome no Gueto Brasil, que jamais iria esquecer.

Vaidade

Que vaidade é essa que nos enlouquecesse? Que nos deixa perder o sentido da amizade? E nos deixa cegos pelos nossos desejos. E o desejo dos outros com as suas vaidades envaidecidas que os fazem cegos pela cólera da incompreensão, e os deixa perder totalmente a razão. No jogo das vaidades quem sai perdendo é a vida. Que deixa de ser vivida por que de outra forma será conduzida. Conduzida pelos interesses das vaidades envaidecidas e das vaidades não reconhecidas. O elo se quebrou… A amizade não valeu… E a confiança ficou perdida entre a vaidade envaidecida e a vaidade não reconhecida. A política é o jogo das vaidades. Quem sabe jogá-lo, usa-o como bem quer. Escarnece um, enaltece o outro, enobrece um, menospreza o outro. Usando sempre o que enaltece para escarnear do outro; o que enobrece para menosprezar o outro. O seu interesse é o que vale. A sua vaidade é jogar, usando a vaidade dos outros.

Meu fusquinha


Me lembro como se fosse hoje O meu noivo chegou com ele todo encerado. O bege do seu casco brilhando, rodinhas de liga leve câmbio sincronizado. Olhei e não quis acreditar, as chaves sendo entregues em minhas mãos. É seu. Não vai aceitar ? Não posso, não tenho como pagar. É seu, me paga do jeito que dar. Olho no olho, não tive como recusar. Entrei e senti o cheirinho de tuti fruti, o volante era pequeno, parecia feito para as minhas mãos. O toca fitas meio antigo dava um charme especial. E os bancos marrons ? Não tinha o que falar. Ele me acompanhou por quase um ano. Meu primeiro carro, meu fusquinha. Juntos vivemos muitas aventuras, numa delas ele quase me mata, ainda bem que foi só do coração. O susto foi grande, ele soltou a barra de direção. Mas como tudo na vida acaba ou se transforma, o meu fusquinha foi embora. Se transformou em pagamento de entrada na compra da nossa casa. O nosso amor não acabou, apenas se transformou. E hoje sempre que vejo um fusquinha passar, me lembro com amor daquele que pela primeira vez o volante me confiou.